domingo, 4 de agosto de 2019

PROSA EM POÉTICA MADURA




Filha mais velha de três irmãos, sentia-se sozinha.
Entre idades, um fosso nas brincadeiras.
Limitava-se aos amigos imaginários.
Casa de amigos ou amigos em casa (os reais) nem pensar.
Afinal, como no velho ditado, “um é pouco, dois é bom, três é demais”. Ou melhor, naquela casa, suficiente para aquela mãe totalmente do lar. Sem opções, centrou-se nas leituras. Era tudo que poderia ter e fazer uma vez que residia distante dos grandes centros.
Das leituras às aventuras nos livros de Geografia e História do ginásio, um pulo.
Viajou tanto que conheceu meio mundo numa virtual dimensão inimaginável à época.
Sua escola, por concurso e opção dos pais, ficava num município vizinho. Tão longe de casa e da sua realidade social que só lhe restava ser a primeira aluna da classe.
Mais uma vez sozinha durante a adolescência.
Seus trabalhos de grupo eram individuais.
A mãe explicava, a professora entendia, a mocinha sozinha.
Classificou-se no vestibular em troca de uma bolsa.
Vida corrida e passada; filhos e neto, uma estrada.
Hoje, senhora e plena de si, livre de amarras, entendeu ser sua melhor companhia.
Exala poesia madura e, no seu olhar, ainda resiste um quê de futuro.

©rosangelaSgoldoni
02 08 2019
RL T 6 711 905
revisado em 03 01 2020 para publicação

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será bem-vindo!

JANELAS

  Chegava do nada na calada da noite, sorriso nos lábios e braços a postos. Sempre um Campari a celebrar! Madrugadas festejadas ...