Alguns vasos de antúrio davam o toque floral.
No quintal, horta e parreira de uvas.
Ao fundo, um galinheiro onde colhíamos ovos e, vez por outra, um abate na cozinha (pobrezinha).
Afinal, abundância não era a regra dominante.
Couves, jilós, alfaces, tomates eram plantados por sobrevivência, e, pareciam mágicos quando nos pratos surgiam.
Minha mãe, incansável: afinal, três filhos e não existiam máquinas de lavar, ferro a vapor... Não tínhamos sequer televisão ou refrigerador.
Tempos difíceis, trabalho pesado, raros gestos de carinho.
Talvez não gostasse de bonecas porque nunca chegavam no aniversário ou Natal.
Claro, houve a época do pique-esconde, cirandas e bambolês.
Meu tempo, basicamente, era ocupado pela música, leitura e estudo.
Rádio Nacional era o nosso passatempo: Cesar de Alencar, Paulo Gracindo, Manoel Barcelos e tantos outros. Suas Rainhas do Radio, sambistas e seresteiros.
O Repórter Esso nos informava.
O tempo corria frouxo e eu mergulhava na leitura. Dos contos de fadas ao gibi. Literatura na Escola: um prazer! A partir daí, muita coisa mudou.
Entendidos e atendidos os desentendidos, ultrapassar os percalços na vida adulta com a devida compreensão tornaram-se missão à caminho da evolução.
Legado: dedicação.
Adotei pai e mãe num exercício de amor.
A infância pobre não foi tempo perdido. Antes, entender que humildade não significa subserviência muito menos justificativa para se desviar dos caminhos da retidão.
16 10 2013
Revisado em 29 06 2014
©rosangelaSgoldoniPublicado na Antologia Poemas à Flor da Idade 4ª edição 2014 Por um mundo Melhor Editora Somar Agei Porto Alegre RS
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