Assistindo a um programa na TV sobre os danos causados pelo
uso do cigarro e vapes, retorno à juventude ao relembrar meus 17 anos.
Pai amoroso, naquele momento ex-fumante, em surtos
autoritários:
- Se eu te pegar fumando, arrebento teus dentes!
Doce melodia aos ouvidos de uma jovem que sonhava ganhar o
mundo.
À época, no meu ponto de vista, fumar rimava com independência.
Comecei fora de casa, com amigos, claro, comprando com o
dinheiro economizado da mesada.
Muita bala de hortelã até voltar para casa.
A roupa nunca negou o cheiro e um dia ele, decidido, me
enfrentou:
- Você está fumando?
Respondi que sim e, para minha surpresa, me presenteou com
uma carteira de cigarros e uma caixa de fósforos.
Não entendi nada, mas era tarde.
Anos se sucederam, algumas tentativas inúteis de romper com
o vício, sempre a responsabilizá-lo pela minha fraqueza. Ele, ia e voltava, até
que parou definitivamente. No seu leito de morte fizera-me prometer que
deixaria o vício.
Prometi, mas não cumpri.
Um manto de culpas descartado com a desculpa de que no leito
de morte tudo seria absolvido.
Os fundamentos eram sempre os mesmos: gostava, fazia-me bem
e acalmava-me (mesmo ciente de que a cada tragada o coração acelerava).
Quase 50 anos depois me rendi. Por mim e por um pouco de
dignidade na terceira idade.
Há seis anos e meio, dias ultrapassados com serenidade.
E por falar em dignidade, nunca fui sedentária. Sempre
pratiquei e ainda pratico exercícios físicos, o que talvez tenha me permitido
uma certa estabilidade pulmonar.
Quanto ao meu pai, finalmente entendi que, as ameaças, eram
o único meio do qual dispunha para me defender e quando nos reencontrarmos
vamos fazer troça desta situação.
©rosangelaSgoldoni
10 06 2024
RL T 8 087 796
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