segunda-feira, 12 de maio de 2025

MARIAS SOLIDÁRIAS


 


Como rotina, voltava do interior aos domingos à noite, ônibus das 23.40h.

Apesar dos perigos da madrugada, o trânsito das estradas era tranquilo e encurtava o trajeto até o destino final, a urbe, em quase uma hora.  O percurso incluía paradas em algumas cidades.

Mas, acidentes e violências são imprevisíveis como aquela pedrada em direção a sua janela meses atrás. Escapara por pouco.

Desta vez uma violência quase imperceptível.

Já embarcada, tentava dormir. Não ultrapassou os limites de alguns cochilos.

No stop para o lanche, em torno das duas e trinta, apenas um café. Em seguida, dirigiu-se ao toalete onde foi abordada por uma jovem, talvez uns vinte anos, que deixava transparecer seu olhar de medo e apreensão.

- A senhora está no ônibus que vai para o Rio - o stop envolvia outras linhas naquele horário -?  O assento ao seu lado está vazio?

Sim, respondi.

- Poderia trocar de lugar e me acomodar a seu lado? Estou sentada atrás do motorista e um desconhecido insiste em perguntas descabidas e desnecessárias. Estou assustada e constrangida.

Solidária, sugeriu: sente-se à minha frente (será mais confortável para as duas). Caso o assediador venha ao seu encontro, levante-se e junte-se a mim.

Assim foi feito: atenta, a acolhedora percebia o homem na primeira fileira a se contorcer tentando localizar a mocinha assustada.

- Estou aqui, descanse, avisei. Qualquer coisa estarei pronta acolhê-la e buscar recursos para nos defendermos.

A sequência da viagem foi tranquila e sem abordagens inoportunas.

Desembarcou uma cidade antes, a poucos minutos de distância do ponto final, destino daquela jovem “Maria”, então adormecida. Despediu-se com delicadeza.

Dali para a frente, entregaria a Deus os cuidados dos quais se ocupou: que Ele a guardasse dos importunadores e protegesse a todas as “Marias incomodadas e constrangidas” sem distinção.


©rosangelaSgoldoni

27 05 2019 

Revisada em 10 05 2025 para publicação

na Coletânea Contos, Crônicas e Poesias, Vol. 7

Poemas à Flor da Pele, Porto Alegre, RS

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