Estava naquele show
a convite de uma amiga cuja filha havia se casado com um cigano de família
tradicional. Dançar era mais do que divertimento.
O espaço no clube fora compartilhado com videntes e cartomantes.
Seria a sua primeira incursão pelas cartas e profecias; danças e magias que
sempre a seduziram.
Encantada com as mesas arrumadas, saias rodadas e coloridas; música vibrante,
bolas de cristal e baralhos enigmáticos, entre as mesas quando se decidiu-se
por uma consulta.
O que o destino lhe revelaria nas cartas que desfilavam naquelas mãos ávidas de
cortes e interpretações?
Escolheu e sentou-se. Meia-hora de revelações por R$ 50,00 e acréscimos, caso
necessário.
A fala da “vidente” ouvia-se num “portunhol” sem escrúpulos. Trabalhava com uma
bola supostamente de cristal e um baralho.
Observava enquanto era questionada: respondia com monossílabos às
perguntas que tentavam induzi-la a respostas reveladoras.
- Há um Roberto na sua vida.
- Sim, conheço um Roberto e ...
E surgiram outros nomes sem sentido ou significado. Até que a cartomante
perguntou em bom português:
- Você não acreditou em nada do que eu falei, certo?
- É verdade, nada me foi convincente.
Façamos um trato: você é uma pessoa muito atenta e observadora. Se quiser
trabalhar comigo, deixo o meu cartão. Procure-me.
Levantou sorrindo e voltou-se para o palco onde um grupo de legítimos ciganos
dançava e cantava.
Anos depois descobriu uma cigana dentro de si que se revelava nas metáforas da sua
poesia cotidiana.
©rosangelaSgoldoni
16 04 2019
RL T 6 625 196
RL T 6 625 196
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