segunda-feira, 1 de setembro de 2025

A SUSPIRAR POR SETEMBROS


 

 

Deixo-me abraçar pelos suspiros de setembro

atenta às florações que celebrarão a próxima primavera.

Sonhos teimam em driblar a eloquência do tempo passado,

calendário desenfreado de viver.

Sorrir,

quem sabe sorver o perfume da gardênia,

além do jardim, a envolver  estrada...

Ser coro no cantar do sabiá do campo

a celebrar o encanto do entardecer.

Multiplicar-me em cores e orquídeas,

baunilha,

ao sabor do bem-me-quer.

Festejar o frenesi das borboletas a sugar o néctar

à exaustão,

transformação!

Nas incertezas das certezas,

acreditar que novas primaveras me acolherão.

Verão!

 

©rosangelaSgoldoni

RL T 8 421 796

01 09 2025


quinta-feira, 7 de agosto de 2025

DÚVIDAS E ALGUMAS CERTEZAS

 

Despeço-me de algumas certezas num piscar de momento.

É preciso renovar-se em entendimentos,

perceber os movimentos

e desacelerar conclusões tratadas como definitivas.

A impermanência traduz-se em claras percepções

de que muito pouco é imutável ao domínio de causas!

O ser social dança numa

roda-viva de variantes conceituais.

Cristalizar-se em convicções é tentar atrasar o relógio

que acelera o momento sem se ocupar do pensamento.

Às certezas, minhas dúvidas!

 

©rosangelaSgoldoni

15 10 2023

revisão em 06 08 2025

RL T 8 401 373


segunda-feira, 14 de julho de 2025

INFÂNCIA EM 3 X 4


 

Minha infância e adolescência

residem na essência das lembranças.

Fotografias?

A vida simples,

poucos recursos,

não nos permitia.

Os 3 x 4

sagrados

na caderneta a cada ano:

o pouco esperançado

no investir em educação.

Sem herança cogitada,

a vida passava ao longe dos testamentos.

Memórias da tenra escola,

das brincadeiras,

recreio;

suspiros em crescentes e

graduados horizontes:

um futuro revelado

em colorido presente!

 

©rosangelaSgoldoni

05 07 2025

RL T 8 382 692


domingo, 22 de junho de 2025

INVERNO EM AQUECIMENTO

 




Ele passa mais uma vez e

acena discretamente.

Relembra-me que ainda

somos presença na linha visível do tempo.

Eu e meu inverno do calendário

caminhamos rumo

ao encontro do novo neto

ao prazer do sabor de ser avó pela segunda vez.

Mais um menino a revelar-se

em festejares de primavera

frente à minha estação dissonante.

Ciclos que se envolvem e

intercalam ao sabor do

anuário e suas possibilidades.

Crescente maturação de um amor

a ungir-me avó em nova gestação.

Vem Lucas,

ao sabor da novidade de nascer!

 

©rosangelaSgoldoni

22 06 2025

RL T 8 364 227


segunda-feira, 12 de maio de 2025

MARIAS SOLIDÁRIAS


 


Como rotina, voltava do interior aos domingos à noite, ônibus das 23.40h.

Apesar dos perigos da madrugada, o trânsito das estradas era tranquilo e encurtava o trajeto até o destino final, a urbe, em quase uma hora.  O percurso incluía paradas em algumas cidades.

Mas, acidentes e violências são imprevisíveis como aquela pedrada em direção a sua janela meses atrás. Escapara por pouco.

Desta vez uma violência quase imperceptível.

Já embarcada, tentava dormir. Não ultrapassou os limites de alguns cochilos.

No stop para o lanche, em torno das duas e trinta, apenas um café. Em seguida, dirigiu-se ao toalete onde foi abordada por uma jovem, talvez uns vinte anos, que deixava transparecer seu olhar de medo e apreensão.

- A senhora está no ônibus que vai para o Rio - o stop envolvia outras linhas naquele horário -?  O assento ao seu lado está vazio?

Sim, respondi.

- Poderia trocar de lugar e me acomodar a seu lado? Estou sentada atrás do motorista e um desconhecido insiste em perguntas descabidas e desnecessárias. Estou assustada e constrangida.

Solidária, sugeriu: sente-se à minha frente (será mais confortável para as duas). Caso o assediador venha ao seu encontro, levante-se e junte-se a mim.

Assim foi feito: atenta, a acolhedora percebia o homem na primeira fileira a se contorcer tentando localizar a mocinha assustada.

- Estou aqui, descanse, avisei. Qualquer coisa estarei pronta acolhê-la e buscar recursos para nos defendermos.

A sequência da viagem foi tranquila e sem abordagens inoportunas.

Desembarcou uma cidade antes, a poucos minutos de distância do ponto final, destino daquela jovem “Maria”, então adormecida. Despediu-se com delicadeza.

Dali para a frente, entregaria a Deus os cuidados dos quais se ocupou: que Ele a guardasse dos importunadores e protegesse a todas as “Marias incomodadas e constrangidas” sem distinção.


©rosangelaSgoldoni

27 05 2019 

Revisada em 10 05 2025 para publicação

na Coletânea Contos, Crônicas e Poesias, Vol. 7

Poemas à Flor da Pele, Porto Alegre, RS

terça-feira, 15 de abril de 2025

O PRÓXIMO INESPERADO


 

O corpo e o tempo caminham lado a lado
até que o inesperado os separe para sempre.
A intenção do eterno desfaz-se em gotas que
transformam suas faces num mar sem fronteiras
entre a razão e a inocência.
Pacienta-se a vida entre acomodações tectônicas
das placas de memória.
Viagem
passado, presente,
quem sabe futuro,
divisórias palpáveis nas rugas sem correção.
Procedimentos cosméticos
não apagam os riscos e rasgos do coração.
À espera de um sorriso não ensaiado ou
um abraço desconcertante,
seus corpos e o tempo
retomam seu curso
até que o próximo inesperado!
 
©rosangelaSgoldoni
20 08 2021 (inspiração) 4
15 04 2025 (conclusão)

RL T 8 310 343


A SUSPIRAR POR SETEMBROS

    Deixo-me abraçar pelos suspiros de setembro atenta às florações que celebrarão a próxima primavera. Sonhos teimam em driblar a elo...